A empresa chinesa de biotecnologia Sinovac anunciou que a vacina em testes no laboratório para a Covid-19 induziu a produção de anticorpos em mais de 90% dos pacientes que receberam a dose.
A substância é a mesma que deve ser aplicada em voluntários brasileiros no Instituto Butantan, em São Paulo, que fechou uma parceria com a empresa na semana passada.
A empresa não informou quantas de fato receberam a vacina, chamada de “CoronaVac”, ou quantas produziram os anticorpos. Não houve efeitos colaterais severos, segundo o comunicado.
A microbiologista Natália Pasternak, do Instituto Questão de Ciência, explica que ensaios clínicos em fase 2, como este, normalmente são feitos com centenas de pessoas, e tentam descobrir como as pessoas reagem às substâncias.
“Você vai ver qual é a resposta imune das pessoas a essa vacina. Ainda não é a eficácia, mas você começa a descobrir como as pessoas reagem à vacina: medir anticorpos, resposta celular, ver parâmetros de sangue de como as pessoas estão reagindo”, diz Pasternak.
Os anticorpos neutralizantes da Covid-19 apareceram depois de 14 dias, segundo a empresa. Pasternak avalia que é “bastante provável” que a vacina dê alguma imunidade contra a doença.
“Anticorpos neutralizantes são protetores; mas não sabemos quanto tempo essa imunidade dura – isso só saberemos com o tempo, mesmo. Por isso testa contra um placebo, para ver se a vacina realmente está protegendo. Mas é justamente isso o que a fase 3 vai dizer. Parece ser uma boa vacina”, explica Pasternak.
A Sinovac informou que pretende continuar a fase 3 dos ensaios fora da China, inclusive no Butantan.
Pasternak avalia que o único “problema” da potencial vacina chinesa é que, por ser “antiquada” em termos de tecnologia, trabalha com o vírus “inteiro” – isso significa cultivar o vírus e, depois, inativá-lo.
“Ou seja, cultivar um vírus respiratório em grandes quantidades. Isso precisa de laboratório especializado, e o custo é alto”, afirma. “Mas, fora isso, são vacinas seguras e que o Butantan sabe fazer”.
Se o novo coronavírus (Sars-CoV-2) sofrer uma mutação, por exemplo, essa vacina não teria eficácia contra ele, segundo a microbiologista.
“Esse vírus não tem uma taxa de mutação alta, então isso é pouco provável, mas, se acontecer, essa vacina não vai mais servir, e não vai servir para outros vírus”, diz.
“A vantagem das vacinas mais modernas é que podem ser construídas de forma versátil, e adaptadas para novos vírus”, pondera Pasternak.
G1