InícioMundoEm transplante inédito, homem recebe coração de porco geneticamente modificado

Em transplante inédito, homem recebe coração de porco geneticamente modificado

Um paciente nos Estados Unidos se tornou a primeira pessoa no mundo a receber um transplante de coração geneticamente modificado de um porco.

David Bennett, de 57 anos, passa bem, segundo os médicos, três dias após o procedimento experimental de sete horas em Baltimore.

O transplante foi considerado a última esperança de salvar a vida de Bennett, embora ainda não esteja claro quais são suas chances de sobrevivência a longo prazo.

“ERA MORRER OU FAZER ESSE TRANSPLANTE”, EXPLICOU BENNETT UM DIA ANTES DA CIRURGIA. “EU SEI QUE É UM TIRO NO ESCURO, MAS É MINHA ÚLTIMA ESCOLHA.”

Na foto, de 7 de janeiro, o cirurgião Muhammad M. Mohiuddin segura o coração de porco geneticamente modificado que seria colocado em David Bennett, um paciente de 57 anos com doença cardíaca terminal, no centro médico da Universidade de Maryland, nos Estados Unidos. — Foto: Faculdade de Medicina da Universidade de Maryland (UMSOM) (via Reuters)
Na foto, de 7 de janeiro, o cirurgião Muhammad M. Mohiuddin segura o coração de porco geneticamente modificado que seria colocado em David Bennett, um paciente de 57 anos com doença cardíaca terminal, no centro médico da Universidade de Maryland, nos Estados Unidos. — Foto: Faculdade de Medicina da Universidade de Maryland (UMSOM) (via Reuters)

Médicos do Centro Médico da Universidade de Maryland receberam uma licença especial do regulador médico dos EUA para realizar o procedimento, com base no fato de que Bennett teria morrido sem ele.

Ele foi considerado inelegível para um transplante humano – decisão que costuma ser tomada quando o paciente está com a saúde muito debilitada.

Para a equipe médica que realizou o transplante, o procedimento inédito é o ápice de anos de pesquisa e poderá mudar vidas em todo o mundo.

‘Um passo mais perto’

Cirurgiões realizam transplante de coração em David Bennett no Centro Médico da Universidade de Maryland, em Baltimore, em foto de 7 de janeiro — Foto: University of Maryland School of Medicine (UMSOM)/Handout via Reuters
Cirurgiões realizam transplante de coração em David Bennett no Centro Médico da Universidade de Maryland, em Baltimore, em foto de 7 de janeiro — Foto: University of Maryland School of Medicine (UMSOM)/Handout via Reuters

O cirurgião Bartley Griffith disse que a cirurgia deixa o mundo “um passo mais perto de resolver a crise de escassez de órgãos”, segundo comunicado da Faculdade de Medicina da Universidade de Maryland.

Hoje, 17 pessoas morrem por dia nos EUA à espera de um transplante, com mais de 100 mil na lista de espera.

A possibilidade de usar órgãos de animais para o chamado xenotransplante (transplante de células, tecidos ou órgãos de uma espécie para outra) para atender a demanda por transplantes é uma possibilidade estudada há anos. O uso de válvulas cardíacas de porco já é comum.

Cirurgiões fazem transplante de coração de porco em humano em Baltimore, Maryland, no dia 7 de janeiro. — Foto: Faculdade de Medicina da Universidade de Maryland (UMSOM)/Divulgação via Reuters
Cirurgiões fazem transplante de coração de porco em humano em Baltimore, Maryland, no dia 7 de janeiro. — Foto: Faculdade de Medicina da Universidade de Maryland (UMSOM)/Divulgação via Reuters

Em outubro de 2021, cirurgiões em Nova York anunciaram que haviam transplantado com sucesso um rim de porco em uma pessoa. Na época, a operação era o experimento mais avançado feito até então. No entanto, o destinatário naquela ocasião estava com morte cerebral e sem esperança de recuperação.

Bennett espera que seu transplante permita que ele continue vivendo. Ele ficou de cama por seis semanas antes da cirurgia e ligado a uma máquina que o manteve vivo depois que ele foi diagnosticado com doença cardíaca terminal.

“NÃO VEJO A HORA DE SAIR DA CAMA DEPOIS QUE ME RECUPERAR”, DISSE ELE NA SEMANA PASSADA.

Na segunda-feira (10/1), foi relatado que Bennett já respirava sozinho. Mas não está claro exatamente o que acontecerá a partir de agora.

O porco usado no transplante foi geneticamente modificado para eliminar vários genes que teriam levado o órgão a ser rejeitado pelo corpo de Bennett, informou a agência de notícias AFP.

David Bennett Jr, filho do paciente, disse à Associated Press que a família está em “território desconhecido neste momento”. Mas acrescentou: “Ele percebe a magnitude do que foi feito e realmente percebe a importância disso”.

“NÓS NUNCA HAVÍAMOS FEITO ISSO EM UM HUMANO E EU GOSTO DE PENSAR QUE NÓS DEMOS A ELE UMA OPÇÃO MELHOR DO QUE CONTINUAR SUA TERAPIA”, DISSE O CIRURGIÃO BARTLEY GRIFFITH. “MAS SE [ELE VIVERÁ] UM DIA, SEMANA, MÊS, ANO, EU NÃO SEI DIZER.”

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