Olaf Scholz toma posse como novo chanceler da Alemanha, e era Merkel chega ao fim

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Após a votação, Scholz foi para o Palácio Bellevue, a residência do presidente alemão, Frank-Walter Steinmeir, que o nomeou formalmente. (Foto: Reprodução)

 

Os 16 anos de Angela Merkel à frente da Alemanha chegaram ao fim nesta quarta-feira, com a transferência do governo para a coalizão tripartite liderada pelo social-democrata Olaf Scholz. Ao novo chanceler, caberá não só substituir uma das líderes mais populares e respeitadas do planeta, mas também guiar a principal economia da Europa em um momento de turbulências múltiplas que vão da pandemia de Covid à crise interna na União Europeia.

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Scholz e o seu governo conjunto com os Verdes e o Partido Democrático Liberal (FDP) — a primeira aliança tripla alemã após a Segunda Guerra Mundial — foram formalmente eleitos pelo Bundestag, o Parlamento do país, por 395 a 736 votos secretos. O trio, contudo, tem somado 416 assentos, o que significa que não teve o endosso de 21 deputados da base governista.

Como sinalizado pelo placar, as desavenças entre os improváveis parceiros podem complicar a vida do novo chanceler. A aposta deverá ser em agendas comuns, tendo como prioridade acelerar a transição verde alemã, combater a pandemia e fortalecer o bloco europeu.

Após a votação, Scholz foi para o Palácio Bellevue, a residência do presidente alemão, Frank-Walter Steinmeir, que o nomeou formalmente. No retorno ao Bundestag, foi empossado pela presidente da Casa, Bärbel Bas.

“Eu disse ‘sim'”, tuitou o nono chanceler do pós-guerra alemão pouco após o juramento, deixando de fora um trecho tradicional em que pede ajuda divina para governar.

Depois da cerimônia, os integrantes de seu Gabinete — que pela primeira vez na História terá o mesmo número de homens e mulheres — também foram empossados. Durante a tarde, a nova equipe de governo se reunirá com Merkel e seu time, que passará o último bastão.

Promessa de continuísmo
Se o triunfo foi da centro-esquerda, o dia começou com mais uma homenagem à Merkel, cuja despedida cerimonial ocorreu no último dia 2: ela foi recebida pelos parlamentares com uma salva de palmas de quase um minuto, antes de se sentar no setor de visitantes do Legislativo. Perto dela estava seu predecessor, o último chanceler social-democrata e mentor de Scholz, Gerhard Schröder (1998-2005).

Nos últimos dias, a conservadora pragmática que guiou a Alemanha por momentos críticos como o colapso econômico de 2007 e a crise de refugiados de 2015, disse que ainda não sabe o que fará daqui para frente, mas que pretende descansar. A sua União Democrata Cristã (CDU), por sua vez, será relegada à oposição apenas pela terceira vez desde a Segunda Guerra.

Isso não significa que o rompimento será brusco, no entanto: Scholz foi vice-chanceler e ministro das Finanças pelos últimos quatro anos, na coalizão entre os conservadores e os social-democratas. O social-democrata, que também recebeu uma salva de palmas dos parlamentares, foi eleito com uma plataforma que pregava em grande parte o continuísmo.

Os desafios, no entanto, serão imediatos: a Alemanha atravessa uma quarta onda da Covid que ameaça as festas de fim de ano, além das incertezas ao redor da variante Ômicron. Como a maior potência europeia, precisará lidar com a crise entre a Rússia e a Ucrânia e manter a coesão em uma União Europeia volátil, enfraquecida pelo Brexit e pela erosão democrática em Estados-membros como a Hungria e a Polônia.

Social-democratas, liberais e verdes prometem também reduzir a dependência dos EUA, visto como aliados menos confiáveis após os quatro anos de Donald Trump à frente da Casa Branca. Também terão que fazer frente à ascensão chinesa: para isso, planejam aumentar os investimentos em infraestrutura, no desenvolvimento de novas tecnologias.

Partilha de poder
A política externa será comandada pela primeira vez por uma mulher, Annalena Baerbock, a colíder dos verdes. Seu parceiro na dianteira do partido, Robert Habeck, liderará um superministério ambiental, supervisionando as políticas climáticas. No total, a legenda terá cinco pastas, e Habeck será também vice-chanceler. Os social-democratas terão seis — entre eles, o Interior e a Defesa, que também terão mulheres na dianteira.

Os liberais comandarão quatro ministérios, entre eles as Finanças, que serão lideradas por seu líder, Christian Lindner — uma condição para que o acordo governista fosse firmado, assim como um compromisso com a ortodoxia orçamentária. Se a parceria dos social-democratas com os verdes era mais natural devido à sua proximidade ideológica, era com o FDP que havia mais arestas a serem aparadas.

Os três partidos concordaram em não aumentar os impostos ou flexibilizar a regra constitucional que impõe um freio ao endividamento, impedindo o Estado de tomar emprestado mais de 0,35% do Produto Interno Bruto (PIB) a cada ano. A partir de 2023, o limite aos gastos voltará a ser adotado, após ser temporariamente suspenso para conter os impactos da pandemia.

Os verdes defendiam aumentar os impostos para os mais ricos e flexibilizar o freio ao endividamento para acelerar o combate ao aquecimento global, ponto que aparecia em menor escala também no plano de governo social-democrata. Sem essa opção, o custeio das promessas de neutralizar suas emissões de carbono até 2045 e abandonar o uso do carvão até 2030, oito anos antes do planejado, deverá ser um dos maiores pontos de tensão entre os integrantes do novo governo, segundo a imprensa local.

Reações internacionais
Scholz teve tempo para se aclimatar ao cargo durante a longa transição de poder — foram 73 dias entre a eleição do dia 26 de setembro, que deu uma estreita maioria aos social-democratas, e esta quarta. No fim de outubro, inclusive, o ex-prefeito de Hamburgo foi com Merkel à reunião do G20 em Roma, na Itália, onde participou de reuniões com líderes como o americano Joe Biden e o francês Emmanuel Macron.

A primeira viagem internacional de Scholz será já na sexta, quando viajará ao Eliseu para se reunir com Macron. Em seu Twitter, o líder francês compartilhou um vídeo ao lado de Merkel, agradecendo-a por “nunca ter esquecido as lições da História” e “por ter feito tanto por nós, e conosco, para o avanço da Europa”.

Em seguida, postou uma mensagem direcionada para Scholz, afirmando que “escreverão o próximo capítulo juntos”. A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen — aliada de Merkel e integrante da CDU —, por sua vez, desejou boa sorte ao novo chanceler e disse estar “ansiosa” para que trabalhem em conjunto.

O presidente chinês, Xi Jinping, se pronunciou antes mesmo do novo mandatário alemão ser empossado, afirmando que Pequim está “disposta a consolidar e aprofundar a confiança mútua política, aumentar as trocas e a cooperação em diferentes âmbitos”. Já o Kremlin, que apresenta uma dor de cabeça ao novo governo com o aumento da presença militar na fronteira com a Ucrânia — algo que Kiev e Washington dizem ser preparativos para uma invasão —, disse desejar uma “relação construtiva” com o novo chanceler.

— Apostamos na continuidade e no estabelecimento de relações construtivas entre o presidente e o novo

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